Pai
nordestino e mãe carioca, fui, como assim dizer, adotado aos dois anos, por
minha avó paterna, alagoana de Palmeira dos Índios, lugarejo distante 150
quilômetros de Maceió, capital de Alagoas – nordeste do Brasil.
Voltando
um pouco ao passado, minha avó, nasceu – mais ou menos – em 1898, digo mais ou
menos porque na época os registros ocorriam quando os pais lembravam ou quando
a pessoa, já adulta precisava da certidão de nascimento e essa eu nunca tive
acesso.
Outro
episódio que marcou a existência de minha avó foi que lá pela década de 40 do século XX, fugindo, do
pai de seus filhos que, por ela ser muito bonita, ele tinha loucas crises de
ciúmes, foi parar no Rio de Janeiro - RJ, Cidade Maravilhosa, em que se radicou
até o fim da sua vida.
Bela
morena clara, estatura mediana, cabelos lisos e castanhos, nariz afilado estilo
europeu, apesar de parecer de origem indígena, olhos cor de mel era um exemplar
de mulher que inspirava os mais torpes e sublimes sonhos.
Ela tinha
três filhos dos quais meu pai era um deles e um outro, que era carteiro faleceu
num acidente de trem, ficando ela então com dois filhos e uma filha.
Chegando
ao Rio de Janeiro foi morar numa chamada "cabeça-de-porco" ou
casa de cômodos que era num prédio de dois andares sito à Rua Bento
Ribeiro, número 19 ², no Bairro da Saúde, centro do RJ,
onde, para sobrevivência, lavou e passou roupa para terceiros e explorava uma
pensão³ onde cozinhava e vendia refeições. Dessa forma ajudava aos
filhos e a meu pai, como tal – é aí que eu começo a participar da sua vida - Me educou, inclusive em ginásio particular.
Até os seis anos não tenho registros de minha infância. Dos sete anos em diante recordo de minhas peripécias infantis, que numa primeira fase, bem contido, eu era mais companheiro da minha avó, e inclusive auxiliava em algumas pequenas tarefas de casa e trabalho da D. Maria, seu nome de batismo.
Até os seis anos não tenho registros de minha infância. Dos sete anos em diante recordo de minhas peripécias infantis, que numa primeira fase, bem contido, eu era mais companheiro da minha avó, e inclusive auxiliava em algumas pequenas tarefas de casa e trabalho da D. Maria, seu nome de batismo.
Muito boas lembranças da fase escolar, naquela época - primário e ginásio - todas
ligadas aos amigos e amigas, cujas residências eram no morro da Providência e
nas cercanias.
Ocupávamos,
até os idos de 1961, ela, eu, minha tia e meu tio, dois cômodos e mais uma
parte da cozinha comunitária do andar. O banheiro também era de uso
comunitário. As dependências de uso comum e mais vários quartos e uma área de
serviços, com tanques e varais para se estender roupas eram ladeados por um
corredor e ao mesmo tempo terraço de onde avistávamos o Morro da Providência e
a Pedreira São Diogo, que pouquíssimas vezes ouvimos funcionar. A bem da
clareza deste depoimento, morávamos no segundo andar do prédio. Aos 17 anos
tivemos que desocupar a nossa moradia, por motivo de desapropriação para
demolição - assim ficamos sabendo -.
Com muita
saudade narro os acontecimentos, ora quando falo de mim e da família, ora
quando falo do Rio de Janeiro por mim frequentado.
Na escola
primária - Escola 4.l República da Colômbia - era um moleque mais ou menos
aplicado, porém em matéria de disciplina "um desastre", pois brigão
ao extremo vivia envolvido em confusão. Os fatos não resultaram em maiores
danos. O tempo, as sovas e as repreensões - na rua e em casa - e a tolerância
dos adultos que me cercavam se incumbiram dos reparos no comportamento, graças
a Deus! Afinal eu não era "perda total" pois era bem educado e
respeitador dos mais velhos, salvo num ato de rebeldia, em que devolvi um
apagador contra mim arremessado pela professora. Felizmente minha pontaria não
era lá essas coisas.
A rua em
que eu morava era e ainda é muito próxima à Central do Brasil. Local de muita
movimentação de trabalhadores, vadios, desocupados, malandros, prostitutas,
cafetões e todas as espécies de aproveitadores do descuido alheio. Era um antro
de perdição. Eu da sacada do meu quarto apreciava as desavenças entre os
arruaceiros, cachaceiros, gatunos e brigões de todos os níveis. Eram
acontecimentos de toda natureza.
Mesmo
morando naquela selva nunca fui influenciado pelo que via e/ou ouvia. Minha
avó, nordestina de pouca ou nenhuma instrução foi a que mais me influenciou,
pois a mulher de fibra, trabalhadeira e honesta não media esforços para que eu
fosse educado com retidão, ainda como complemento quando eu não me portava como
ela orientava, bastava uma pequena ameaça:
- "
vou contar pro teu pai" - que eu logo aquietava.
Logo no
curso ginasial eu era mais ou menos aplicado. Nas matérias que eu gostava
costumava ir bem, era o caso de matemática, desenho, carpintaria, cerâmica,
canto, inglês, francês e até mesmo português, ao contrário de latim,
geografia e história, que eu só fazia para passar de ano e apertado. De todas
as disciplinas as que eu me destacava eram desenho e matemática. No caso de
desenho a professora sempre me dava um zero por comportamento e como eu ia bem
nas provas das três notas a média era sempre 6, ou seja nunca conservei a média
10 conseguida nas provas e trabalhos.
Falando
de artes, além do ginásio nunca fiz curso algum de desenho ou pintura, na minha
fase mais primitiva. Sempre fui autodidata, a vida inteira, mesmo amando o
desenho e a pintura minha ligação era apenas por meio dos livros onde observava obcecadamente técnicas, ideias e até as biografias dos grandes pintores.
A
curiosidade sempre me motivou e moveu. Minha inserção nas
artes foi quase que instintiva. Eu sentia a necessidade de pintar, desenhar, criar,
enfim estabelecer um elo entre o meu ser e a arte. Sempre apreciei os
quadros, as esculturas e as formas dentro desse universo. Os grandes pintores
provocaram em mim, interesse de também me manifestar por meio das telas,
pincéis, espátulas e tintas nesse contexto muitas vezes sombrio pouco
alvissareiro para os que se lançavam no campo.
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