terça-feira, 18 de setembro de 2018

História que Continua - DEZESSETE ANOS APÓS DEZESSETE


DEZESSETE ANOS APÓS DEZESSETE


        A vida nos reserva surpresas, para às quais não estamos ou achamos não estar preparados, eis que subitamente nos percebemos fazendo coisas que revelam o lado mais interior e belo da nossa natureza. Com dezessete anos tivemos mudanças de endereço e de vida.
        Novamente dezessete anos após, ou seja, com 34 anos estava mudando outra vez, agora para melhor, assim entendo. Foi o caso, na medida que, em 1978, vim morar em Brasília - capital federal - . Os dois primeiros anos foram, apesar de gostar muito da nova localização, de muita saudade do convívio com a família, amigos e ambiente no Rio de Janeiro. Na verdade sai do Rio de Janeiro, mas o Rio de Janeiro não saiu de mim.
   Não sei sob que fundamentos, mas essa nova realidade provocou uma resposta tão inesperada quanto a minha vinda para Brasília, tendo em conta que o meu lado adormecido das artes passou ou voltou a se fazer presente na minha vida. Todas as imagens de infância, juventude e fase adulta no Rio de Janeiro voltaram a povoar meus pensamentos e as lembranças foram a inspiração que motivaram meu despertar, fazendo com que eu buscasse nos registros do passado, sua ligação com o presente e futuro mesclado às experiências mais remotas.
    Assim em 1980 concorri a uma Exposição das Cidades Satélites de Brasília, e tive duas obras selecionadas, que representou a minha incursão no mundo das artes plásticas no DF. A partir daí comecei a participar ativamente da vida cultural de Brasília. 
     As exposições não se restringiram a apenas coletivas, individuais, mas também de exibir minhas obras no Projeto Paradas - que consistia na execução de pinturas em paradas de ônibus - visando além de embelezar a cidade, mais especificamente de Sobradinho - DF, divulgar o meu trabalho. Neste caso eram exposições de obras, bem como da minha figura, uma vez que tinha contato direto com os usuários dos ônibus e transeuntes que por lá passavam.
    Em Brasília mais do que no Rio de Janeiro, minha cidade natal amada, encontrei inspiração e tempo para dedicar algumas horas do meu dia-a-dia às artes, além de encontrar o apoio e o carinho, que todo artista necessita, por parte dos apreciadores das suas obras, sejam eles adquirentes ou não. 

O meu trabalho visa desenvolver uma consciência coletiva dando ênfase a humanização das favelas, objetivando a inserção dos seus moradores em um contexto social onde aqueles sejam respeitados como quaisquer cidadãos e não discriminados pela sua condição financeira menos favorecida.         Nesse sentido, baseado na minha experiência e observação da nossa realidade ao constatar a carência de habitação que assola o mundo, ao me deparar no Brasil, principalmente, com moradores de rua, que vivem e dormem ao relento é que adotei como máxima o pensamento de que: É melhor morar na favela, do que na rua, é bem mais romântico.  

Assim faço da - arte tema - uma grande brincadeira e do personagem J.Vicente um menino travesso, preocupado em levar a simplicidade e a beleza da minha arte aos olhos daqueles que se ligam à cultura, colhendo os fragmentos que passados para as telas ou outro suporte simbolizam meu coração, minha paixão e minha alma.

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